GUIA DE CONSTRUÇÃO DE MUROS DE PEDRA SECA
-
Tipo de publicaçãoManual
-
Autor(es)Carlos C, Gonçalves C, Costa J, Costa H, Alcazar R, Sousa J, Marques JP, Gomes E. (Equipa do projecto “Boas práticas para a Biodiversidade no contexto das alterações climáticas”)
-
Instituição do Autor correspondenteADVID
-
Entidades ParticipantesCAP, GPP, LPN, SPEA
-
EditorADVID - Associação para o Desenvolvimento da Viticultura Duriense
-
Dia / MêsSetembro
-
Ano2021
-
Nº de Páginas15
-
ISBN978-989-98368-7-7
Introdução
Os muros de pedra seca possuem um elevado valor, quer para as comunidades, quer para a conservação a biodiversidade. Além de servirem as necessidades das populações, os muros de pedra são
um abrigo e refúgio para várias espécies de plantas e animais. São construções de pedra justaposta efectuadas pelo homem, sem recurso a quaisquer elementos de ligação, apenas a pedra local, geralmente
o xisto ou o granito. Para obviar à menor coesão da parede, consequente da falta de argamassa de assentamento, esta técnica requer uma boa execução no travamento das pedras entre si através do
encaixe cuidado das pedras e da utilização de “escassilhos”. No caso do Douro Vinhateiro, os muros em pedra seca foram construídos com o objectivo de permitir o cultivo da vinha sobre as encostas
íngremes, sendo posteriormente cheios com terra trazida da encosta. Estes terraços murados, também denominados de “socalcos”, são um dos elementos criados pelo homem que mais contribui para a singularidade da paisagem do Alto Douro Vinhateiro, classificada pela UNESCO em 2001 como paisagem cultural, evolutiva e viva.
Os muros de pedra seca são um dos sistemas mais sustentáveis do ponto de vista da conservação do solo, já que reduzem o risco de erosão, as perdas por escorrência superficial e deslizamentos, permitindo
uma maior infiltração da água e o reabastecimento dos cursos de água. Considerando o valor imaterial associado à valorização que promovem na paisagem do Alto Douro Vinhateiro, com incremento do turismo cultural e ambiental, os muros de pedra posta devem ser vistos como um instrumento de desenvolvimento económico. Construídos com o objectivo de persistirem ao longo de várias gerações, são o exemplo vivo da história e tradição de uma região. Estas importantes infraestruturas fundiárias encontram-se, no entanto, ameaçadas em particular pela escassez de mão-de-obra especializada na sua manutenção e reconstrução com elevados custos associados, dependendo da disponibilidade de pedra e da localização da parcela.
Um muro de pedra devidamente construído, no qual cada pedra assenta perfeitamente sobre as restantes osicionadas imediatamente abaixo, e no qual o efeito da gravidade continua a puxar umas contra
as outras, permanecerá estável. Faça-o como deve ser, em esquadria, a prumo e bem ajustado em toda a sua extensão, e o muro ainda estará de pé muito depois de todos os nossos feitos e falhanços já há
muito terem sido esquecidos. Para além disso, as numerosas estruturas de acesso que lhe estão associadas (escadas para as pessoas e rampas para os animais, geralmente o macho) são autênticas obras de engenharia, contribuindo para a complexidade e beleza da paisagem duriense.